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Maternidade e sucesso profissional: como dar match?

Publicado no dia: Qui, 9. Mai 2024
Maternidade e sucesso profissional: como dar match?
Muitas vezes a trajetória profissional das mulheres é restringida devido às características de seu perfil (veja nosso texto: “Por que ainda estamos no meio do caminho?”). Mas há muitos fatores envolvidos nesta equação, institucionais e culturais. Desse conjunto, hoje destacamos alguns dos desafios da maternidade. 

Primeiro desafio: encontrar o momento certo para engravidar.

É muito difícil encontrar o momento ideal para engravidar diante dos desafios profissionais. Durante nossa formação (graduação, especialização, mestrado, etc...), pensamos ser impossível, pois “vai arruinar minha carreira antes mesmo de começar”. Depois, precisamos mostrar que somos competentes e estamos comprometidas com nosso trabalho – o que significa disponibilidade total para a empresa, muitas vezes nem férias conseguimos tirar, que dirá uma licença maternidade! E então vão surgindo novos desafios profissionais, “preciso conduzir esse projeto para ganhar visibilidade”, “preciso assumir essa posição para entrar na arena política da empresa”. Esperamos por um momento de maior estabilidade e tranquilidade em nossas carreiras que, provavelmente, virá apenas com a aposentadoria – tarde demais para pensar em filhos...

Para nossa consultora, Michele Ruzon, a maternidade só se tornou possível com a migração ao home office durante a pandemia. A vida de consultora implicava em muitas viagens, algo incompatível com os cuidados de um bebê. Depois de passar pela experiência de se tornar mãe, ela afirma que o momento ideal para engravidar depende de sua preparação pessoal/emocional, não do seu timing profissional. Quando você se sentir pronta para ser mãe, faça um planejamento financeiro e considere esse período como um ano sabático – você irá se afastar por um tempo da vida profissional, mas voltará renovada, uma mulher com uma visão aprimorada de mundo. Cuide apenas para não se desconectar totalmente de sua área, mantenha contato com colegas e acompanhe as notícias, isso é possível entre uma fralda e outra.

Segundo desafio: o tempo de licença.

A licença maternidade é de 04 meses (podendo chegar a 06 nas empresas cidadãs) para nós, e apenas 5 dias (ou 20 dias nas empresas cidadãs) de licença paternidade. O período para ambos é ainda restrito quando consideradas as necessidades de um bebê e a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) de manter o aleitamento materno até os dois anos de vida da criança. 

E o que isso representa na prática? Em casa, ficamos sem a ajuda diária dos pais que já retornaram ao trabalho, continuando suas carreiras sem alterações. Quando retornamos à atividade profissional, sofremos com algumas consequências do tempo em que ficamos afastadas: muitas mulheres são demitidas e as que não são perderam a chance ou o momento certo de progredir. Lembre-se que toda carreira é uma construção ao longo do tempo, a maternidade é uma pausa que pode tornar sua jornada mais demorada, mas não significa que você não irá ter mais nenhuma oportunidade de reconhecimento e crescimento em sua vida profissional.

Terceiro desafio: cuidar de um bebê e continuar trabalhando.

Se você não tiver nenhum parente ou conhecido para ficar com seu bebê, não tiver um berçário na empresa, e não pretender deixá-lo 8h por dia em uma escola, conciliar a maternidade com a vida profissional é quase uma missão impossível. Muitas mulheres acabam entendendo que é uma escolha excludente: ou continuamos dedicadas às nossas carreiras e abdicamos da maternidade, ou priorizamos o papel de mãe e abandonamos nossa vida profissional, no fenômeno conhecido mundialmente como “opt-out”. Pesquisa da FGV (2020) mostrou que 48% das profissionais que se tornam mães abandonam as atividades para dedicarem-se exclusivamente aos cuidados dos filhos; muitas vezes por necessidade e não escolha.

Se você for uma profissional liberal, terá mais flexibilidade para conciliar a maternidade com o trabalho e fará seu retorno mais rapidamente. Existem vários exemplos de advogadas, arquitetas, psicólogas e consultoras como a Michele que conseguem organizar seu dia alternando atividades profissionais e tempo com seus filhos com bastante habilidade e energia também (a rotina é bem cansativa, não se engane!). 

E há luz no final do túnel? Sim!

Fácil não é, rápido também não. Mas há algumas iniciativas acontecendo.

Alguns pais estão aumentando sua participação no cuidado com os filhos: se a licença paternidade é curta, eles podem programar suas férias e aproveitar seu banco de horas para ficar em casa por mais tempo. Também observamos algumas empresas implantando programas voltados aos pais. O que nos falta ainda é uma legislação que privilegie essa distribuição mais igualitária da responsabilidade parental (como nos exemplos da Alemanha, Noruega, Islândia e Suécia). 

Infelizmente, sabemos que algumas empresas ainda mantêm a prática de demitir suas empregadas que retornam da licença maternidade. Por isso, vale a pena investir em diálogos abertos com líderes e pares: a gestação é um momento de grandes mudanças para a mulher e tem impactos em nosso bem-estar físico, não é fácil manter os patamares de entrega enquanto estamos com enjoos, com os pés inchados e preocupadas em gerar uma vidinha dentro de nós. Variações de desempenho devem ser analisadas sob essa perspectiva e deve-se lembrar que essa situação não é para sempre, dura no máximo 09 meses. 

Durante a gestação, busque ativamente o apoio de líderes e pares, comece a delegar atividades e preparar a equipe para quando você se afastar do trabalho. Exerça empatia e convide os demais em seu trabalho a fazer o mesmo: pergunte aos homens que trabalham com você como foi a adaptação à maternidade de suas esposas, irmãs e até mesmo filhas, e peça dicas para as mulheres da empresa. Após a licença, combine com seu gestor um período de adaptação, utilizando um modelo híbrido com trabalho remoto e presencial. Assim, a empresa, você e o bebê terão um tempo para se adaptarem às mudanças e construírem seu “novo normal”. 

De nossa parte, fazemos o convite a colaboradores e clientes que tenham paciência e compreendam a presença dos bebês de nossas consultoras em algumas reuniões virtuais (um riso no meio da apresentação faz bem!) e a necessidade delas de definir agendas de acordo com os horários das mamadas. 

Precisamos nutrir uma cultura que respeita e admira as mães que trabalham, e começamos assim: permitindo que cada mulher atue dentro de suas condições para conciliar seus papéis de profissional e mãe.
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